A verdade saiu intacta.
Chego. Antes, guardei minha verdade
no bolso.
Me serviram uma taça de vinho, que me
desceu seco.
Conversei com poucos. Todos estavam
ocupados demais.
Cada qual em seu mundo. Uns redondos,
outros nem tanto.
Finjo que entendo tudo. Mas quem quero enganar?
Olhei em volta, e continuei fingindo na tentativa de ser.
Ninguém me recriminava pois todos fingiam também.
Fotos eram tiradas, e tiradas eram todas as verdades.
Num canto, alguém vomitava as mais doentes mentiras.
Dava para sentir o cheiro, e a ânsia tomava conta do ar.
Era impossível não notar todas aquelas, as sequelas.
E o tempo passava sem que ninguém notasse.
Parecia festa, gente bêbada de tanto veneno, e eu ali.
No meio daquelas pessoas, eu pessoa, despejando cinzas.
Meus ombros doíam pelo peso que carregava nos olhos.
O que via só era possível porque a luz do dia havia fugido.
Fui então tomado por uma súbita vontade de dançar.
Inventei uns passos horríveis e chamei de modernidade.
Quem disse que é preciso saber, meus pés não ligaram.
Num descompasso; só sabia que existia uma pista de dança.
Ao final de tudo, o que sobrou foram as bolhas nos pés.
E as fotos e os fingimentos. E o cansaço tomou conta de mim.
Dancei horrores, como um monstro. E não fiz escândalos.
Apenas retomei o rumo de casa, com minha verdade intacta.
Alexandre Fon
@_alexandrefon
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