Questão de prioridade; vontades e interesses como elo e essência.
Acordando, o primeiro pensamento que me veio à cabeça era a
prioridade que minha mente considerava que eu deveria ter. Tanto que ficou por
alguns minutos me rodeando, martelando como se quisesse fincar a ideia em meu
âmago, e foi tomando forma e rumo enquanto escovava meus dentes e me preparava para
o banho matinal. Esse pensamento só começou a dissipar quando eu, já sentado em
minha escrivaninha, abri minha agenda e intentei seguir seus compromissos.
Ainda bem que aprendi que o que está à frente, ou à primeira vista, nem sempre
é uma prioridade, senão, pelo pensamento de outrora estaria eu vivendo algo
improdutivo e sem muita noção da realidade.
Daí em diante segui meu dia de acordo com o que já havia
previamente definido e anotado. Óbvio que deixei espaços para os imprevistos e
outras vontades que me parecessem pertinentes, afinal o urgente e o lúdico são
tão importantes quanto aquilo que é prioritário. E dentre os inúmeros afazeres
de meu dia a dia, por querer ou por ofício, também estava a atenção que daria
às pessoas do meu convívio. Afinal,
ninguém vive bem sem o afeto compartilhado.
E assim como eu faço, creio ser razoável esperar que outras
pessoas também nos tenham como certa prioridade, ofertando tempo e ouvido vez
ou outra. Claro que sem sermos mesquinhos, pois não somos o centro da vida de
ninguém. Mas, com certeza, esperamos que quem nos queira perto, mesmo à
distância, faça questão de se aproximar nem que seja por uma mensagem, ou um
emoji bonitinho. Porém, nem sempre isso acontece. E nesta hora surge uma
excelente lição.
Ninguém é obrigado a realizar nossas vontades e anseios, nem
mesmo nos dar um simples bom dia. Não raro alguém passa próximo a nós e nenhum
gesto nos oferece. E tem vezes que, por descuido ou má vontade, nem a gente tem
o carinho de fazer um aceno. E olha que isso pode ser fatídico no dia de
alguém. No fim, a prioridade que damos é proporcional ao interesse que temos,
seja por coisa ou pessoa. É provável que um indivíduo apaixonado não meça
esforços para conversar ou estar junto de sua paixão, mesmo com os compromissos
pressionando seu tempo.
Então, quando observo pessoas não retribuindo o que entrego
de bom grado, como uma palavra de conforto ou uma ação de esclarecimento,
retraio minha atenção ao pensamento de justeza, que conduz o que é importante à
gaveta do que é essencial; o cuidado para comigo mesmo. E entendo que outras
pessoas façam o mesmo, se, por acaso, eu não lhes retribua o que me dão em
tempo e cuidado. E faço sempre o possível para reparar qualquer falta de zelo
que noto de minha parte, porque não é justo que outro sofra o resultado de
coisa que eu poderia ter feito melhor.
Em suma, nossa atenção é basicamente ligada àquilo que
estamos interessados. Qualquer desculpa que dermos porque não tivemos acuidade
é simplesmente a conclusão de que houve, antes, algo mais interessante ou urgente.
Se for por emergência, a compreensão é humanamente ponderável, pois não se
cobra de alguém algo que esteja fora de seu controle. Agora, se for somente um
descuido por não ter havido interesse, nosso entendimento também precisa ser
ponderado, contudo a ênfase deve estar no desapego, quebrando o elo da
necessidade da presença deste que não nos priorizou em seu tempo possível.
Com esta certeza de que devemos cuidar bem de nosso tempo,
tomar o tempo dos outros sem o cuidado devido, é ato de gente desonesta. A
desonestidade está no fato de não se ter a dignidade de cumprir com o que é
prioritário. Portanto, ao querer dividir seu tempo, ou querer emprestado o
tempo da outra pessoa, seja honesto com suas convicções e princípios, não
permitindo que a impressão que tenham de você é a de uma pessoa cuja confiança
é flexível. Existem características que precisam ser rígidas, sem brechas para
entendimentos contraditórios.
Todavia, e talvez este seja o motivo do que escrevi até aqui,
a responsabilidade pelas expectativas que criamos é somente nossa. Quando
aguardamos ansiosamente a ação de alguém, significa que não sabemos lidar com o
tempo que temos. Ficar à mercê de um futuro que depende do outro é, antes de
mais nada, uma idiotia. E a única maneira que encontro, e que sirva como um bom
conselho, é entender que a vida funciona (e bem) de acordo com o que
priorizamos. As prioridades precisam ser valorosas, e atingir nossas melhores
virtudes, e que sejam notadas como exemplos positivos por todos aqueles que
alcançamos com nossas atitudes e palavras.
Assim, se tiver interesse demonstre. Do contrário, faça um
gesto de demonstração de afeto pelo tempo dos outros e os liberte dos anseios
que você possa causar neles. Não estar interessado não precisa estar ligado à
soberba ou à falta de modéstia, desde que saiba se colocar como alguém que se
importa com o sentimento alheio, mesmo que não compartilhe das mesmas emoções e
precise, por opção, ficar distante.
Se soubermos pôr em prática o que aqui analisamos, tenho
certeza que muitos dos infortúnios e maus entendidos comuns poderão ser
desfeitos, dando lugar ao consenso e à boa convivência. Façamos disso uma de
nossas prioridades.
Alexandre Fon
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