O sumiço da mala azul, e o que podemos aprender com isso
Fui tomado por um sentimento
de angústia, por algo tão ínfimo, mas que me chegou como item importante, a
perda de uma mala azul, e o que havia dentro dela e eu nem sei o que é. Não sei
onde a deixei, até revirei a memória e nada. E já faz um tempo que notei a falta
dela, mas meses depois é que senti de maneira desproporcional a perda deste
objeto.
Entendo que, por ser a
vida uma passagem qualquer apego nesta existência é tolo, pois como todos sabem
daqui nada levaremos. No entanto, fui tomado de um sofrimento que eu senti no
corpo. Uma queimação no peito, uma obsessão pelo pensamento que não parava de
trilhar caminhos possíveis e uma autotortura psicológica injusta.
Por mais que eu tivesse a
consciência de que é algo simplório demais e, portanto. não merece atenção
focada – afinal o que há de se fazer sobre algo que não temos o controle – a
cabeça não seguia este raciocínio. E isto me trouxe por dois dias uma sensação bastante
ruim.
Daí, para amenizar a
falta do bom-senso, me pus em sintonia com a coerência que sempre cultivei
dentro de minha mente, e por isso escrevo este texto. Espero que ele também lhe
sirva. E por falar em servir, a nossa mente está sempre a serviço de alguma
coisa que, ou a consciência ou o inconsciente determina. Ou seja, aquilo que focamos
ganha importância e sua força está relacionada ao tanto que ficamos obsessivos.
O jeito então é sempre transferir
a atenção desnecessária para a acuidade inteligente. Se não posso controlar o
assunto que estou pensando busco mudar o tema para uma situação de maior
controle. Neste contexto, transfiro a sensação de perda para o comportamento que
demonstre ganho, usando um tanto do estoicismo como fonte e a lucidez como
meta.
Assim pensemos juntos.
Nada do que somos aqui representa nossa potência enquanto consciência contínua,
pois este período vivencial tem validade. Ao pensar desta maneira, iniciamos um
processo de identificação de nossas potencialidades, entendendo nossos limites
de ação. Ao nos situar num momento de transição, pois daqui partiremos para outra
etapa, enxergamos com melhor nitidez o que de fato significa estar nesta terra.
Um fato irrefutável é que
viver demanda compartilhar, e que seres humanos se ligam uns aos outros como
forma necessária para o avanço da espécie. Sendo assim, sempre haverá a
necessidade do acoplamento de identidades, cujo valor se define pela junção de
mentes. Se o estar próximo significar sintonia para o crescimento moral e/ou
tecnológico, com certeza será valoroso e producente o que advir desta
conjuntura.
Portanto, para que eu
conseguisse sair do pensamento danoso, tive de me amparar na inteligência
alheia, retirando dos resultados desta, o auxílio que tanto precisava para
retomar a coerência que sempre prezei. Relembrei do que aprendi nos muitos
livros que li, dos conselhos que recebi e sempre me são úteis, dos trabalhos
realizados em prol do próximo quando me dedicava à labuta espiritualista, e
disto tudo fui fazendo caminho de reconexão com meu bem-estar.
Realmente não há motivos
para que certas angústias permaneçam para além do aprendizado. O sofrimento tem
seu objetivo, e dele ninguém escapa, de um jeito ou de outros. Neste meu caso,
veio para chamar minha atenção, e por sorte por algo que de fato não dói na
pele e nem ecoa para outras pessoas. O que dá para fazer é ir adiante dando
atenção ao que traz reconforto, ofertando o tempo em prol de situações mais dignificantes.
Tendo a noção da finitude,
do quão valiosa é cada sensação e de que temos o poder de mudar o foco a fim de
encontrarmos sentimentos mais adequados ao nosso aprimoramento, somos capazes
de ter clareza sobre a essência de nossa vida, ser alguém que comporte os
aprendizados e os expanda por bons comportamentos, sendo o exemplo de pessoa em
constante evolução.
Ainda sinto falta da
minha singela mala azul, pois dela fiz experiências memoráveis, pois me fez companhia
em tantos momentos, mas sofrer em demasia por não tê-la comigo é descabido. O
melhor que eu faço é explorar pensamentos de gratidão pelos ganhos que obtenho
em meus dias, como o recente restabelecimento da saúde após uma fase crítica de
faringite, e de estar próximo à família e amigos.
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