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Mentes Perigosas: o psicopata mora ao lado. O que é a Psicopatia e como identificá-la..


Cena da Série "Dupla Identidade" de 2014 - Divulgação TV Globo.

 Segundo a psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva, autora do livro “Mentes Perigosas: o Psicopata Mora ao Lado”, a psicopatia não tem “cura”. Primeiro porque a psicopatia não é considerada doença (embora carregue o termo em sua denominação), e sim uma disfunção cognitiva que impede conexões de empatia e de arrependimento. De acordo com Ana Beatriz, os psicopatas não têm remorso. E sabem exatamente o que fazem. A psiquiatra ainda alerta para o equívoco de relacionar psicopatas somente pela capacidade destes de gerar atos violentos e/ou assassinatos em série. A maldade pode vir em várias molduras, de ações brandas até as mais cruéis. Ela afirma que, por pesquisa, 4% da população mundial tem perfil psicopático, e que por isto, é possível que algum psicopata esteja muito próximo, desde um colega de trabalho, um colega de faculdade, até mesmo um filho ou um cônjuge.

Então, é importante frisar que o psicopata não é um doente mental. Doentes mentais são os psicóticos, pessoas que sofrem delírios e alucinações, e por isto não possuem consciência lúcida de seus atos. Geralmente, quem está nesta condição de psicose, vive numa “outra realidade”, e crê estar agindo em defesa de si, de algo ou de alguém, e por isto, tem seus atenuantes jurídicos. Já os psicopatas agem com premeditação, e entendem exatamente o porquê de estarem executando suas vontades. Psicopatas tem um transtorno de personalidade, onde há excesso de razão e nenhuma preocupação em se colocar no lugar do outro.

A psicopatia surge com o nascimento?

O que se sabe é que os psicopatas nascem com o sistema límbico (estrutura cerebral que dispõe nossas emoções) prejudicado, como se esta parte do cérebro não funcionasse.   E esta atividade disfuncional foi observada por dois brasileiros, o neurologista Ricardo Oliveira Souza e o neurorradiologista Jorge Moll Neto. Suas pesquisas, por meio da ressonância magnética funcional, demonstraram diferenças gritantes quando se comparou psicopatas e não psicopatas.

 O exame de ressonância magnética funcional exibe imagens dos campos cerebrais, o que permite que se observe suas funcionalidades. No caso do trabalho desses dois pesquisadores, foram postas diante das pessoas analisadas, entre elas psicopatas, algumas imagens agradáveis, que exibiam paisagens, a exuberância da natureza e cenas de alegria, e outras imagens impactantes e perturbadoras, como cenas de violência, maltrato de crianças e morte.

Disto, constatou-se que, em pessoas não psicopatas, o sistema límbico reagia a cada cena de maneira diferente (imagens cruéis eram sentidas de um jeito e de alegria de outro jeito). Já nos psicopatas, perceberam que não havia variação no sistema límbico. Em suma, uma imagem agradável e uma cena cruel geraram a mesma reação no cérebro de um psicopata, ou melhor, o grupo de psicopatas não reagiu emocionalmente. E outra, por consequência da falta de empatia ao ver as imagens (de se colocar no lugar do próximo), o corpo deste tipo de indivíduo também não repercutia emoções, como o nervosismo e a taquicardia. O que por óbvio, num exame para “detecção de mentiras”, um psicopata passaria muito fácil.

É justamente por não se colocar no lugar do outro, e não ter arrependimentos, que os psicopatas conseguem agir de maneira fria e cruel, e tratar outras pessoas como se fossem objetos que podem ser manipulados de acordo com seus interesses. E é imprescindível saber que, o que qualifica o psicopata não é a gravidade do ato (crime), mas o modo como este ato é cometido – premeditadamente planejado e sem sentimento algum por sua vítima, sendo de uma crueldade inimaginada. 

Mesmo assim não é tão fácil detectar um psicopata, ainda mais quando estamos próximos, ligados afetivamente a este.  Basta ver o exemplo do espancamento de mulheres por seus próprios maridos. Mesmo as estatísticas demonstrando que cerca de 25% dos casos de violência contra a mulher são realizados por psicopatas, muitas delas, as vítimas, não aceitam a verdade. Porém (e é isto que ajuda bastante na detecção deste distúrbio grave de personalidade), existem algumas características que são comuns em pessoas psicopatas. Geralmente, elas falam muito de si mesmas, e mentem sem receio algum, e não se constrangem por nada, mesmo quando descobertas. A arrogância e a postura de intimidação estão entranhadas nos psicopatas. Contudo, apresentam-se sempre charmosas e sedutoras, justamente por raciocinarem que a emoção do outro é uma fraqueza, e apelam pra isto sem remorso, e fazem o que for preciso, e propositadamente, em prol do que desejam.

O conto do vigário.

Todo psicopata tem uma historinha triste para contar, e comumente (repare) sempre se saem como os heróis, como “puros de coração”, na intenção de burlar alguém.  E fazem isto porque entendem que a maioria das pessoas são empáticas a dor alheia. E mais, também manipulam as pessoas enaltecendo o ego delas, por meio de elogios descomedidos. E é aí que deve ser acionada nossa prudência, e por cautela, desconfiar de pessoas que são excessivamente bajuladoras. Ah, e quando os psicopatas conquistam algum poder sobre as pessoas, como cargos de chefia, suas características tomam forma de assédio moral aos funcionários.

Mas infelizmente nem todas as pessoas se atentam e tomam ações que previnam ou afastem pessoas com estas características da psicopatia. Muitas tendem, por sua generosidade ou por não acreditar que o mal exista, a justificar as atitudes de todo mundo, incluindo as mais maléficas. Julgam ser um traço isolado que foi gerado por algum motivo passional. E é aí que os psicopatas surgem com mais vigor, pois identificam este tipo de pensamento bondoso e se aproveitam da situação. Então preste atenção neste conselho: tenha sempre em mente que cada ser humano possui sua própria personalidade, e que esta nunca será igual para todos. E que o jeito mais prático de considerar se alguém é ou não um psicopata, é rastrear seu passado e ver se em sua trajetória, gerou muitos traços de destruição.

Cena da Série "Dupla Identidade" de 2014 - Divulgação TV Globo.

Todo psicopata é assassino?

A psicopatia não está ligada apenas ao homicídio, e é isto que a Psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva expõe em seu livro “Mentes Perigosas”. Entre os assassinos, existem aqueles que são chamados de passionais, que envoltos de exagerada emoção matam pela “paixão do momento”, e que, sem estas emoções não matariam de novo. Um exemplo bastante citado na mídia é o caso da mulher que matou o estuprador de seu filho, à época com 4 anos. E ela não é psicopata, pelo contrário. Por mais que sua atitude tenha sido violenta, o crime por ela cometido pode ser compreensível para muitas mães. Mas isto não quer dizer que pessoas que ajam assim não devam ser punidas, mas existem os atenuantes legais para esta tipificação criminal.

Já os psicopatas podem viver sem a necessidade de assassinar. Mas eles com certeza causarão grande destruição a sua volta, “matando” relações e vidas financeiras de outras pessoas, e geralmente são capazes de prejudicar de forma irreversível. Mas sim, os assassinatos mais cruéis são realizados pelos psicopatas, que não apenas encerram com a vida das vítimas, mas vilipendiam seus restos mortais. E neste nível gravíssimo, se não mata, manda que matem. Por conta de seu raciocínio e lógica, os psicopatas são excelentes em conduzir mentes frágeis a atos tão inescrupulosos quanto os que eles cometem. Contudo, se o tipo é brando ou moderado, apenas golpeiam os outros quando e onde menos se espera. O fato é que o estrago gerado por um psicopata pode tanto ser pequeno quanto gigantesco, com alto custo emocional para suas vítimas.

Neste ponto, o que não se pode esquecer é que os psicopatas agem premeditadamente, com a intenção clara de destruir a vida alheia, e em casos mais graves, com requintes inimagináveis de crueldade. E por conta de estarem conscientes ao praticar suas maldades, não lhes caberia atenuantes em caso de condenação criminal – evidenciadas, claro, suas características psicopáticas.

No entanto, nosso sistema jurídico e prisional não está preparado para receber e enfrentar este tipo de distúrbio de personalidade grave. As leis brasileiras ainda são muito atrasadas, e as prisões não possuem estrutura mínima para abrigar indivíduos desta categoria, além de enfrentar superlotação de detentos. No Canadá e nos Estados Unidos, por exemplo, pesquisas relacionadas apontam para entre 20% e 25% da população carcerária ser de psicopatas.

E como saber mais sobre a psicopatia? Recomendo a leitura do livro da Ana Beatriz citado aqui, e ver as interessantes entrevistas desta renomada psiquiatra brasileira. E claro, aconselho a começar a observar detalhes dantes não considerados, a fim de não ser surpreendido por pessoas com esta índole cruel. Ah, e segundo Ana Beatriz, sociopatia é sinônimo de psicopatia. Sei que não é simples, nem fácil, mas há maneiras de atenuar ações deste tipo de gente. E lembre-se, ninguém está livre de encontrar um psicopata, isto se ele ou ela já não estiver morando ao seu lado.

Alexandre Fon

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